Ultimamente tenho me perguntado inúmeras vezes sobre o real significado do viver, do que é o sopro da vida, já que tantas vezes parece que mesmo respirando temos a sensação de não estarmos vivos. Será que começamos mesmo a viver no momento em que nascemos? E para quem vivemos? E para que nascemos? Será mesmo que nascer é viver e viver é ser livre?
Penso que viver é mais do que estar vivo simplesmente, é um estado simbólico no qual encontramos nosso verdadeiro caminho. Vivemos quando nos deparamos conosco e nos conhecemos internamente, quando compreendemos o que somos, como fomos formados, nossos mais sinceros gostos, desejos e vontades. Começamos a viver quando percebemos que muitas vezes o que aprendemos não é exatamente aquilo que queremos ou que acreditamos e quando temos coragem para rever conceitos e confrontar nossas mais sólidas referências. Muitas vezes precisamos desaprender tudo o que nos foi ensinado para então começar engatinhar novamente, estruturar novas referências e partilhar novos conceitos.
Quando nascemos assumimos uma função, aceitamos um propósito de vida estabelecido pelos nossos pais que nos ensinam como devemos viver, agir em sociedade, pensar, nos mostram o que é certo e também o que é errado, o que é moral, vulgar, esperado, desejado, inapropriado e assim vamos formando nossa personalidade. Aos poucos nos tornamos tudo aquilo que era esperado, de uma forma ou de outra, pela família, pelos pais, pela sociedade em que vivemos. Vamos nos enquadrando dentro dos protótipos e das verdades estabelecidas por cada família, acreditando que aquilo é a verdade, é o correto, porém, em algum momento começamos a nos perguntar se aquilo é mesmo o que acreditamos, se o mundo é realmente aquilo que nos foi apresentado e se aquela verdade é mesmo a nossa verdade. Esses questionamentos são o ponto de acesso inicial ao nosso drama, ao nosso viver, é através deles que começamos um processo de descoberta que levam a perceber que não queremos ser o desejo de outrem. Isso faz com que confrontemos os nossos referenciais e tudo aquilo que até então nos formava enquanto sujeitos. Esse confronto faz com que derrubemos os muros que existem dentro de nós e que reduzem nossa realidade e visão de mundo, porém ao mesmo tempo, derrubamos também nossos alicerces, aquilo que acreditávamos que nos fazia viver.
E agora, o que sobra? Apenas escombros e muita sujeira para limpar dentro desse mundo ultrapassado que não mais existe dentro de nós. Com esse processo, podemos pensar então, que precisamos morrer para começar a viver. Morrer para velhas estruturas, para os desejos alheios, para a realidade dos nossos pais, para os arquétipos das nossas famílias, morrer para o mudo externo e a partir do nada que se estabelece iniciar um processo de construção de novos alicerces, nos quais a vida ganha novos ares, novas realidades, novas percepções e caminhos. Aos poucos, atravessamos o túnel que liga o velho ao novo mundo e neste caminho, vamos nos despindo de tudo aquilo que não nos pertence mais e nos despedindo de cada experiência, de cada pessoa e de todos os movimentos que não mais nos levam aonde queremos, vamos nos apresentando a nossa nova imagem, aos nossos novos horizontes, aos novos desejos e vontades. Vamos nos conhecendo, nos apresentando a nós mesmos, olhando os nossos defeitos, inseguranças, medos e reconhecendo que fazem parte daquilo que criamos, fazemos as pazes com eles para que então possamos dialogar com nossa sombra e incorporá-la ao nosso novo mundo.
Neste caminho, começamos a agregar novos conteúdos, novas formas de enxergar o mundo, internalizando novos conceitos e vestindo uma nova roupagem daquilo que acreditamos e que queremos ser de fato. Nossa essência vem em busca de nossa alma e então podemos viver para nós mesmos e ser livres para novas e sinceras escolhas.