Amanda Lazaroni/ novembro 8, 2016/ Psicologia

Na busca do sentido da vida, o homem vem descobrindo ao longo dos tempos, novos caminhos emocionais que o conduzem para o seu mundo interior. Lá lhe é revelado que para curar as feridas e compreender os sofrimentos é preciso amar a si. No momento em que nos conhecemos e nos aceitamos genuinamente é que se torna possível reconhecer que somente o amor é capaz de gerar alma e cicatrizar feridas. Penso que uma das trajetórias que proporciona maior evolução da nossa alma envolva o papel do homem e da mulher nos relacionamentos contemporâneos.

Platão em seu ensaio “O banquete” defende a natureza andrógina do homem através de um mito grego onde o ser humano original era perfeitamente redondo, tinha quatro braços, quatro pernas e uma cabeça com duas faces que pareciam opostas entre si. Eram extremamente inteligentes, mas rivalizaram com os deuses que os cortaram ao meio com o objetivo de diminuir o seu poder. Com isso, esses seres antes completos ficaram separados em duas metades, uma masculina e outra feminina. A partir de então viveram lutando para se reunir novamente. Parece ser isso que nós, homens e mulheres modernos continuamos a fazer quando nos relacionamos. Buscamos no outro uma parte de nós que está faltando e por isso podemos pensar que todo relacionamento é movido pela falta e pelo consequente desejo de se unir em comunhão consigo. Quando nos apaixonamos por alguém nos encantamos por uma imagem que reconhecemos dentro de nós mesmos, como se fosse uma peça faltante de um quebra-cabeças que de repente se encaixa perfeitamente no nosso jogo da vida. Então, nos apaixonamos pelas fantasias de completude que enxergamos no parceiro e não por aquilo que ele é na realidade. Por isso toda paixão vem acompanhada de uma frustração, que é o momento onde as fantasias começam a cair por terra e uma relação mais real e sincera pode se construir. Sendo assim, o outro sempre irá nos apresentar o desafio que precisamos enfrentar para cumprimos a tarefa de integrar emocionalmente os aspectos faltantes da nossa personalidade e é por isso que homens e mulheres tem funções específicas no desenrolar de uma relação amorosa.

Baseada em suas experiências de vida e em suas referências familiares, toda mulher constrói uma figura de masculino que lhe é familiar e que irá encaixar no homem pelo qual ela se apaixonar. O homem em sua função principal dá a mulher a capacidade de focar, ele é um guia que a conduz através de seu mundo interior até a sua alma, como uma ponte. O masculino quando criativo abre caminhos e realiza coisas que ela depois poderá assumir por si mesma. Ele aponta o caminho e abre portas para o seu desenvolvimento emocional. O masculino gera consciência, pensamentos, produtividade e ação que direcionam para o amadurecimento. Sem o aspecto masculino, a mulher se perde em milhares de possibilidades, tem dificuldade de progredir e de encontrar o seu espaço no mundo. O feminino carrega consigo as imagens do inconsciente, mas é o homem quem dá o sentido para elas.

Já o homem também irá espelhar na mulher os aspectos femininos que ele construiu como referência ao longo de sua vida. Quando o feminino está funcionando em seu lugar, a mulher ajuda a ampliar e alargar a consciência do homem e a enriquecer a sua personalidade, inspirando-o através de sonhos e ideias criativas. Incentivam a percepção de um mundo interior rico em imagens e emoções vitalizantes. A consciência de um homem tende a ser demasiadamente focada e concentrada, tornando-se facilmente rígida, limitada, seca e estéril quando não entra em contato com seu mundo interno. O feminino é o arquétipo da vida e funciona como a alma para um homem. É esse ingrediente imperceptível, mas vital, o único capaz de fazer a vida digna de ser vivida e de dar ao homem a certeza de que existe algo que merece ser conquistado e pelo qual se deve lutar. É o feminino que dá ao homem coração, capacitando-o a ser forte emocionalmente e corajoso em face dos sofrimentos e das aflições da vida. O masculino não consegue produzir nova vida fora de si mesmo e sem a influência vitalizante do feminino torna-se seco, deprimido, podendo encontrar nos vícios uma forma de deslocar sua falta atitude, ação e de sentido para a sua vida.

Cada um em sua função, o homem e a mulher se tornam essenciais um para o outro no balanço da vida, onde o caminho para o desenvolvimento acontece. Nesse cenário, a relação amorosa é o palco onde se descortinam todos os personagens da nossa vida. Um a um vão nos mostrando o que precisamos aprimorar para termos um relacionamento saudável no qual cada um desempenhe seu papel e sinta-se em paz com ele. A união do masculino com o feminino não pode realizar-se enquanto buscarmos nossa metade em um parceiro. O respeito, o conhecimento e acolhimento desses papeis é que geram a integração desses dois princípios e que irão constituir um ser humano completo, já que é apenas olhando para nossas faltas que encontramos o caminho que nos leva à verdadeira união conosco e com o amor real.

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